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Já cheira a fim de ciclo, como em junho cheira a santos populares!
O PS, seguramente, irá mudar de candidato a primeiro-ministro, o que significa que entrará em estágio para a mudança de secretário-geral. No CDS fala-se, cada vez mais, em portas abertas à mudança de líder. O PSD caminha a passos largos para o fim da atual liderança.
Há momentos na política em que parece que não há volta a dar. Se bem que o brilhantismo, na política, está também em desviar-se no preciso momento em que o piano lhe ia cair em cima. Passos Coelho já tentou a jogada de perguntar à Procuradoria o que acha do assunto Tecnoforma para receber a resposta de que a PGR não se pronuncia sobre casos prescritos.
Há cerca de um mês, ao Expresso, António Costa anunciava que o seu opositor era Rui Rio, numa clara alusão à saída de Passos Coelho. Hoje, Mário Soares, enquanto chamava “inseguro” a Seguro, lá foi dizendo que este Governo não se aguentará até ao fim do mês. Mota Amaral, apesar do apoio (formal?) do Conselho Nacional do PSD, veio manifestar que Passos Coelho devia esclarecer rapidamente o caso Tecnoforma.
Enquanto tudo parece pegar fogo, Passos Coelho mantém-se em silêncio.
Coincidentemente – talvez mas não necessariamente, que isto dos calendários dos escândalos políticos tem muito que se lhe diga! - do outro lado da barricada o PS está em plena guerra civil, com as eleições para as primárias no próximo domingo.
Por fim, esta semana, foi finalmente alcançado o acordo para o aumento do salário mínimo. Mais uma “coincidência”.
Este pode ser o momento ideal para os dois, perdão, para os três partidos se reorganizarem. Novas soluções estão na calha, uma vem de Lisboa e a outra poderá vir do Porto.
Na semana em que, em Lisboa, a rua se fez rio, este pode ser o pronúncio para uma limpeza profunda na política Portuguesa. Um combate entre Costa e Rio deixa no ar a pergunta de sempre: irá ganhar o S. António ou o S João?
Quando Rui Moreira ganhou como independente as eleições autárquicas no Porto disse uma frase que já aqui repeti e que volto a lembrar: “se os partidos não perceberem o que se passou aqui hoje não percebem nada”.
Vários meses volvidos, nada mudou. E está pior!
Os partidos estão a levar a cabo limpezas internas daqueles que por professarem ideias que circunstancialmente são diferentes do pensamento do líder são objeto de perseguições e processos disciplinares.
Vem isto a propósito da expulsão de António Capucho do PSD. Mas também podemos trazer à liça a balcanização do Bloco de Esquerda e a certeza de que nenhum partido com assento parlamentar em Portugal foge às limpezas ideológicas.
Um partido que se dá ao luxo de deitar um membro fundador com uma história de longa atividade, militância e lealdade ao partido é humilhante, não para o visado, mas para o partido cujo conselho de jurisdição determinou a expulsão.
O problema reside bem mais fundo do que a mera análise casuística do fulano A ou B. Nem todos têm o peso do António Capucho e por isso não esperam pela expulsão, saem pelo próprio pé, outros não aceitam as regras do jogo e por isso não se submetem ao jugo partidário.
Não pode um regime democrático aceitar que os partidos que enchem o hemiciclo se rejam por regras que favorecem a manutenção do pensamento único e potenciem os yes men e expulsem, limitem ou por qualquer forma impeçam que os filiados pensem pela sua cabeça.
Aceitar que os partidos continuem a enxovalhar quem tem a ousadia de pensar pela sua cabeça, é aceitar que os partidos fiquem entregues a uma minoria reduzidíssima de militantes (minoria essa que impõe os seus candidatos a todos), é aceitar que cada vez menos pessoas se apresentem nas urnas para votar, é aceitar que os cidadãos deixem de se rever na política.
Recomendo dois artigos muito interessantes:
a) De Henrique Monteiro, Expulsões e divisões - do PSD ao Bloco
b) De Daniel Oliveira, A expulsão de Capucho e os partidos que temos.
O fecho de 2013 trouxe uma notícia estupenda: os partidos do Governo e o PS entenderam-se quanto à reforma do IRC.
Este acordo, como diz um anúncio que anda por aí, “é só coisas boas”.
Este acordo é uma machadada nesta cultura nada democrática, de imposição, de pouca negociação que é no campo político português transversal.
Há um brocardo na advocacia que diz “mais vale um mau acordo do que uma boa demanda”. Neste caso temos um bom acordo que põe de parte más demandas político-partidárias. E isto é, de facto, só coisas boas.